terça-feira, 9 de março de 2010

POR QUE ESCREVO?

POR QUE ESCREVO?
*Por Aldemir Bentes de Maués
terça-feira, 9 de março de 2010

Escrevo para tornar real meus pensamentos, meus pontos de vista, meus desejos, minhas esperanças, minhas revoltas, minhas tristezas, minhas alegrias, meus sonhos...Ao escrever, dialogo com minha consciência, como escreveu o meu amigo Márcio Melo.

Sou um homem simples, do povo, que tento ver o mundo a meu modo, entretanto, respeito a visão dos outros e aceito seus pontos de vista. Nasci no seio de uma família pobre, mas honrada e alicerçada no amor fraternal, sob os princípios da ética e do respeito pelo ser humano. Não conheci meu pai, mas meu irmão mais velho, Senhor Percildo e minha mãe, Senhora Cândida Bentes, apesar de analfabeta, sempre me guiaram ao caminho da honestidade. Mamãe nos criou ao seu modo: quando levávamos qualquer coisa ou objeto para casa, ela queria saber como, onde conseguimos e quem nos deu e éramos obrigados a devolver e deixar no lugar de onde trouxemos. Fui criado livre, solto, mas nem por isso deixei de ajudar mamãe nas vendas de salgados nas ruas de Maués. Várias vezes o nosso único alimento foi tucumã com café e farinha: café da manhã, almoço e janta. Perdi dois irmãos em consequência da bebida, eram alcoólatras e morreram bêbados. Estudei, pois minha mãe sempre nos obrigou a estudar "para ser alguém na vida" e não passar pelo que ela passou. Ainda jovem, 17, 18 anos me tornei alcoólatra. Sofri às consequências do álcool, experimentei a sarjeta fria das ruas de Maués, fui discriminado, quando, por concurso, passei em terceiro lugar no concurso do BEA. Tentaram vetar minha admissão, mesmo assim, assumi o meu lugar. Antes, estagiei no BASA, agencia de Maués. No BEA, passei 14 anos, pedi para sair, pois não tinha mais interesse em ser bancário. Fui demitido em 1995. Passei alguns anos "perambulando" pela vida. Manaus, Barreirinha, Maués. Sempre bebendo. No final de 1999, voltei para Maués, repensei minha vida e suspendi a bebida. Em 2001 conheci minha atual esposa. Nesse período, trabalhei na empresa de meu sobrinho João Francisco, depois, no início da construção do Hospital. Em 2004 passei, por concurso, na antiga CEAM, onde assumi como Auxiliar de Administração. Ainda neste ano, passei no vestibular e cursei Letras, tendo concluído em 2009. Em 2007 publiquei meu livro, Maués, Contos e Lendas e pretendo lançar brevemente mais dois. Em 2010 passei no vestibular da UEA e pretendo cursar Ciências Econômicas, passei ainda na primeira fase do concurso do IFAM e estou aguardando a 2ª fase, tudo por concurso, sem apadrinhamento, sem dever favores a ninguém, somente a minha família e aos meus amigos de verdade.
É por isso que eu escrevo, pois sou um homem simples, não tenho cargo político, não tenho influência junto ao poder ou pessoas e minha única arma, é escrever. Escrevendo eu tento ajudar a construir a história do meu município. Tenho sofrido por causa de minhas escritas. Aqueles que se sentem ofendidos ou atingidos em seis anseios e interesses, não gostam do meu estilo. Já tentaram me transferir para outra cidade, não conseguiram. Agora, ensaiam uma comitiva para irem até a direção da empresa que trabalho pedir "providências". Ultimamente até meu chefe imediato se aliou aos meus opositores, mas eu continuarei a "escrever", pois é disso que gosto, é isso que sei fazer. Jamais me curvarei diante de ameaças. Conheço meus direitos, sei dos meus deveres e tudo que sou e consegui até hoje, foi com meus esforços e dedicação. Gosto do que faço e não estou em meu posto por indicação de "A" ou "B" e nem tão pouco, busco agradar pessoas ou grupo. Não sou fantoche de ninguém, sei que não sou dono da verdade, mas busco errar menos e acertar mais.

Escrevo, porque é através da escrita que coloco minhas opiniões, meus pontos de vista. Não posso calar diante de tantas injustiças e tantos desmandos.
Já tentei parar, deixar de lado, pois tenho meu emprego, ganho meu salário, mas dentro de mim existe uma força superior as minhas vontades que me impulsiona e não deixa calar.
Quando vejo centenas de pessoas catando lixo, quando vejo professores ganhando menos que um salário mínimo, quando vejo trabalhadores sem carteira assinada, quando vejo obras paradas, quando vejo que Maués não tem creche, quando vejo centenas de pais de família serem dispensados porque foram contratos por antigas administrações, quando vejo o lixão de Maués poluindo os igarapés ao seu redor, quando vejo centenas de famílias prisioneiras de rendas cidadãs, quando vejo uma minoria viajando de avião fretado, passando férias em Fortaleza e o povo pobre trocando seu voto por um rancho ou dinheiro, quando vejo que o dinheiro público não é prestado conta, quando vejo que o município só tem veículos sucateados, quando vejo o município alugar imóvel de funcionário da própria prefeitura, quando ouço no rádio notícias deturpadas... quando vejo...quando vejo...Eu escrevo. Escrevo para relatar minha indignação e sei que muitas pessoas gostariam de fazer o mesmo, mas por motivos óbvios não o fazem.
Eu escrevo porque não quero ser alienado. Quero ter minha própria opinião, poder escolher, consultando minha consciência e analisando o comportamento, vida e história do meu representante.
Eu escrevo e continuarei a escrever, não vou me calar e nem ceder às ameaças, pois não quero que meus filhos tenham um pai covarde. Um dia espero que meus anseios e sonhos sejam realizados, e se eu não mais poder escrever, quero que as futuras gerações escrevam o que eu não consegui: todos os homens são iguais perante a lei, sem distinção de raça, cor, credo ou ideologia política.
É por isso que eu escrevo.


*Aldemir Bentes é filho de Maués, Escritor, Formado em Letras pela UEA – Núcleo de MauésMaués-AM, 09/03/2010 – terça - de 19:59 às 00:57 h
Visite o Blog do Aldemir: http://blogdoaldemirdemaus.blogspot.com/search?q=
Opine, critique, colabore, comente: e-mail: aldemirbentes.maués@hotmail.com

Não jogue este texto na via pública, mantenha limpa a nossa cidade!

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