Este texto, com algumas adaptações, faz parte do meu Livro Maués, Contos e lendas - Dedico aos amigos Raimundo Holanda, Eulálio Macedo, meu irmão querido Percildo Souza e aos milhares de filhos e filhas de Maués que se encontram mundo afora.
UM POUCO SOBRE A COMUNICAÇÃO EM MAUÉS – UM PEDAÇO DA VIDA DE ZÉ COTE.
VISITEI ZÉ COTE EM SUA RESIDÊNCIA NA RUA MENDES GUERREIRO, ONDE ELE GENTILMENTE, ME CONCEDEU ESTA ENTREVISTA.
Antiga Igreja Matriz de Maués - Década de 50 a 70 |
Zé Cote nasceu José Antonio Ferreira, no Rio Arari, município de Itacoatiara. Veio com seus familiares para a cidade de Maués, onde passou a viver e fixou residência até os dias de hoje (julho/2002) aos 66 anos de idade. O apelido que o consagrou e o tornou conhecido, foi dado pelo Sr. Antonino Desideri, o nosso querido Peroba. No comércio do Peroba, havia várias pessoas que embalavam o guaraná em bastão que era vendido ao mercado de Cuiabá, Estado de Mato Grosso. Entre os embaladores, Zé Cote se destacou, dono de uma agilidade incomum, então, o proprietário do comércio o apelidou de Zé Cote, pois todos os demais eram conhecidos por seus respectivos apelidos. Na adolescência, Zé Cote sempre foi trabalhador, fazia pequenos serviços: capinava quintais, a frente das residências, carregava água do porto até as casas, enfim, começou a trabalhar muito cedo, pois gostava de possuir seu próprio dinheiro. Mas dentro de seus objetivos, tinha um grande sonho, começar a vida trabalhando por conta própria, para isso, esperava uma oportunidade. Muito amigo do então prefeito de Parintins, José Esteves, começou a militar na política. José Esteves, por volta de 1963, decidiu lançar seu irmão, Carlos Esteves, a prefeitura de Maués. Para isso, instalou na cidade, um comitê de apoio à candidatura Carlos Esteves, do qual Zé Cote fez parte. Como prêmio por sua dedicação frente ao comitê, José Esteves se comprometeu a comprar e presentear Zé Cote com uma aparelhagem completa de divulgação comunitária, os conhecidos serviços de alto-falantes. Era o sonho de Zé Cote e o nascimento de uma nova era em Maués, o surgimento do 1º veículo de comunicação da Terra do Guaraná.
O nome escolhido foi Voz Serenata, homenagem a co-irmã de Parintins que Zé Cote havia achado o nome muito interessante. A voz Serenata foi inaugurada por volta do ano de 1964, na primeira gestão de Carlos Esteves como prefeito de Maués. O 1º estúdio funcionou na casa de D. Mocinha, na Rua do Estádio, hoje batizada de Presidente Costa e Silva. A Voz Serenata marcou época e criou modismo. As ondas sonoras da Voz Serenata atingiam um raio de mil metros e de acordo com as correntes do vento, era possível ouvi-la nos arredores de Maués: Vera Cruz, Laguinho, Lago Grande, Igapó, Maués-Miri, Moraes e Canarana. O horário de funcionamento da Voz era de 7:00 às 11:00 horas, de 14:00 às 17:00 horas e das 19:00 até às 22:00 horas. Além de informações e entretenimento, exercia também a função de relógio comunitário. Como a iluminação pública só funcionava até às 22:00 horas, quinze minutos antes, a luz piscava, era o indicativo de que após o sinal, quinze minutos depois eram desligadas as luzes, então se tornou um hábito, a Voz Serenata anunciar: dentro de quinze minutos, as luzes serão desligadas e nossos serviços serão retirados do ar, uma boa noite a todos!
A voz Serenata foi reconhecida como utilidade pública e mantinha também, convenio para a formação de cadeia de rádio com as principais rádios de Manaus, as rádios Difusora do Amazonas, Rio Mar e Baré. Os falecimentos e sepultamentos eram anunciados com a eterna canção da Ave Maria. Os comerciais eram a sustentação financeira da Voz, entretanto, os avisos e melodias eram os programas mais ouvidos. As músicas da época da jovem guarda, que decantavam o ciúme e a paixão dos enamorados, eram as mais solicitadas, músicas como: Coruja, Se você pensa que meu coração é de papel, Desafio pra valer, com o saudoso Teixeirinha eram as músicas mais tocadas. O estúdio da Voz Serenata chegou a possuir mais de três mil discos de vinil. A voz era registrada no DENTEL e autorizada a divulgar mensagens do governo federal e assim, em todas as campanhas de divulgação, recebia o disco da campanha. Nos desfiles de 7 de setembro, nas festas juninas na propaganda volante, a Voz Serenata se fazia presente. A população criou respeito e confiança nas divulgações da Voz Serenata e toda notícia por ela divulgada era levada a sério. A voz Serenata foi o caminho para o surgimento do rádio em Maués. Foi através dela que se descobriu grandes locutores, o mais famoso é o nosso Joaquim Chagas, que começou na Voz Serenata, atuou na Rádio Baré de Manaus e hoje é o principal comunicador da Rádio A Crítica FM de Maués. Além de Joaquim Chagas, passaram pela Voz Serenata, Zé de Souza, Gabriel Tavares, Zequinha Prado, Anizinho, Chiquinho, Claudico, Preto Hércules e muitos outros que tiveram a oportunidade e o privilégio de trabalhar no serviço de alto falante mais importante da história de Maués. Além de pioneiro da comunicação, Zé Cote foi também o dono da 1ª oficina de bicicletas, a oficina JAF – que significava as iniciais de seu nome: José Antonio Ferreira.
A primeira rádio de Maués foi montada de maneira artesanal, seu proprietário Paulo Almeida, era técnico em eletrônica e conseguiu monta-la e jogar no ar suas ondas sonoras. Funcionou na praça João Verçosa. A Rádio não possuía licença para funcionar, era clandestina. Recebeu o nome de Rádio Guaranópolis, sugerido por Zé Cote. Sua aparelhagem foi vendida ao empresário Sabá Falcão, dono da rede de bazares denominados Bazar das Novidades. Suas instalações foram edificadas no Largo Marechal Deodoro, ao lado da boate Castelinho. Ao adquirir a rádio, Sabá Falcão batizou a emissora de Rádio Guaranópolis. Mesmo tendo sua montagem artesanal, suas ondas atingiam uma grande área da região amazônica o que a tornou presa fácil para a fiscalização do DENTEL. Descoberta, toda sua aparelhagem foi apreendida pela Polícia Federal. Passaram alguns anos e Maués não possuía nenhuma emissora de Rádio e a pioneira e tradicional Voz Serenata vencia o tempo e a concorrência. O empresário Edílson Rolim Negreiros adquiriu a atual Rádio Guaranópolis. Fundada dentro da legalidade, passou por todos os ciclos que a lei determina, ficando um longo período em fase experimental até poder funcionar com sua programação normal. A rádio Guaranópolis é a primeira rádio legal de Maués, depois surgiram as Rádios Independência e A Crítica FM. Hoje com o advento das comunicações via satélite, a Rádio A Crítica funciona em cadeia com a Rádio A Crítica de Manaus, tendo sua programação local, alguns programas. As outras duas rádios, Independência e Guaranópolis, funcionam com programas locais e profissionais da terra. Hoje Maués é uma das poucas cidades do interior do Amazonas que tem o privilégio de possuir 03 rádios distintas. Todo esse pioneirismo devemos em boa parte, a persistência e sonho de um grande cidadão de Maués, José Antonio Ferreira, o popular Zé Cote. Quem for a Maués e não conhecer o Zé Cote, não conheceu Maués. Era o bordão usado no passado. Quem tiver a curiosidade de saber mais sobre um pedaço da história de Maués e só visitar Zé Cote em sua residência à Rua Mendes Guerreiro – Centro. Parabéns Zé Cote e que Deus o ilumine e lhe dê muitos anos de felicidades. José Antonio Ferreira – Zé Cote, faleceu em 12 de novembro de 2004.
Não nasci em Maués mais minha mãe sim sou Neto de José Antonio Ferreira mais cconhecido como Zé Cote, não cheguei a velo agora que estou com 27 anos mais muita gente de Maúes me fala dele até hj, só fui ai aos dois anos mais até hj fica a saudade. QUE DEUS O TENHA.
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