Marcello
Terto e Silva
Artigo
Após
intensos protestos na semana passada e o pronunciamento da presidente Dilma
Rousseff na sexta-feira (21/06), ao contrário do que se esperava com o fim da
Copa das Confederações, a última semana de junho e o início de julho se iniciam
sob a expectativa de mais manifestações e das reações dos mais variados setores
acerca da fala da presidente.
Na
forma diluída e dispersa da pauta apartidária externada na grande mobilização
popular que assistimos e sobre a qual refletimos, encontramos um ponto comum de
revolta: as instituições públicas que deviam servir ao seu povo servem a
retóricos programas de governo destinados a atender um partidarismo
profissional de concessões políticas mútuas, interesses, fingimento e corrupção
para a realização de si próprio, em prejuízo dos aspectos essenciais do bem
comum.
Essa
cultura deve acabar. As maiores clientes do Poder Judiciário são as Fazendas
Públicas. Não foi por outra razão que discutimos recentemente com a Secretaria
de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça e o ministro aposentado do
Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto a imprescindibilidade de se
fomentar novas práticas nos serviços jurídicos da União, Estados e Municípios,
sob pena de perpetuar esse quadro combatido nas ruas hoje.
Os
Procuradores dos Estados e do Distrito Federal sempre defenderam o
fortalecimento e proteção de instituições públicas neutrais, aquelas que se
encaixam na interseção e controle dos Poderes constituídos, a fim de reforçar o
combate à corrupção. Não obstante, até
justamente por isso, o seu fortalecimento institucional sempre preocupou as
altas esferas políticas em Brasília, à medida que a autonomia das Procuradorias
Gerais dos Estados pudessem abrir caminhos para o crescimento institucional da
Advocacia Geral da União confundida desde o seu nascedouro como espaço de
defesa de interesses de governo, e não de Estado como deve ser.
A
Advocacia Pública não serve a interesses particulares de grupos dominantes, não
serve para encobrir desvios, mas para orientar a boa condução dos atos e
negócios administrativos e viabilizar as políticas públicas de acordo com a
ordem legitimamente debatida, deliberada e estabelecida.
Por
esse motivo, vários projetos que tratam de oferecer autonomia desse ramo das
funções essenciais à Justiça, a única ainda desprovida dessa proteção
institucional, estão parados, a exemplo da PEC nº 82/2007, de autoria do
ex-deputado federal Flávio Dino (PCdoB/MA).
Há
muita coisa errada no país e o povo precisa de políticas amparadas e protegidas
por instituições públicas que efetivamente tenham bem delimitados os seus
papeis e estejam suficientemente estruturados para contribuir na promoção do
bem comum e combater a corrupção.
A
distribuição natural não é justa nem injusta; tampouco é injusto que pessoas
nasçam em melhor posição social. Esses fatos são simplesmente naturais. O que é
justo ou injusto é a maneira como as Instituições lidam com esses fatos. John
Rawls ensina que lidemos com esses fatos aceitando compartilhar nosso destino
com o próximo e só tirando proveito das causalidades da natureza e das
circunstâncias sociais quando isso proporcionar o bem estar de todos.
É
por essa justiça que os brasileiros enchem nosso peito de orgulho e vão às ruas
defender diretamente um novo padrão de dignidade protegido por instituições,
poderes públicos mais confiáveis e comprometidos com a realização do bem geral.
Acreditamos
que essa voz ecoará ainda por muito tempo e nós, Procuradores dos Estados e do
Distrito Federal, colocamo-nos à disposição como elementos de mudança desse establishment político contra o qual o
povo se revolta e manteremos nossa luta pela aprovação de projetos essenciais
que nos permitam contribuir ainda mais para a transformação desejada.
Marcello
Terto e Silva
Presidente
da Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do DF
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