Matéria extraída do Jornal Folha de São Paulo | Adriano Machado - 24.mai.16/Reuters | |||
José Sarney conversa com o presidente interino Michel Temer na posse do ministro da Cultura |
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) prometeu ao ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado, investigado pela Operação Lava Jato, que
poderia ajudá-lo a evitar que seu caso fosse transferido para a vara do
juiz federal Sergio Moro, em Curitiba (PR), mas "sem meter advogado no
meio".
As conversas foram gravadas pelo próprio Machado, que nesta terça-feira
(24) fechou um acordo de delação premiada no STF. Em um dos diálogos,
gravados em março, o ex-senador e ex-presidente manifestou preocupação
sobre uma eventual delação de Machado. "Nós temos é que fazer o nosso
negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com
ele em delação premiada", disse o ex-presidente.
Machado respondeu que havia insinuações, provavelmente da PGR
(Procuradoria-Geral da República), por uma delação. Sarney explicou a
estratégia: "Mas nós temos é que conseguir isso [o pleito de Machado].
Sem meter advogado no meio".
Machado concordou de imediato que "advogado não pode participar disso",
"de jeito nenhum" e que "advogado é perigoso". Sarney repetiu três
vezes: "Sem meter advogado".
A estratégia estabelecida por Sarney não fica inteiramente clara ao longo dos diálogos obtidos até aqui pela Folha, mas envolvia conversas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Sérgio Machado disse que não poderia passar por uma iniciativa apenas jurídica, teria que ser política.
Ao final de uma das conversas, Machado pediu que Sarney entrasse em
contato com ele assim que estabelecesse um horário e local para reunião
entre eles e Renan.
"E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente",
acrescentou Machado. Sarney respondeu que não achava conveniente.
"Não? O senhor dá o tom", respondeu Machado.
O ex-presidente disse que não achava "conveniente, a gente não põe muita
gente". Em seguida ele contou que o ex-senador e ex-ministro Amaral
Peixoto (1905-1989) costumava dizer que "duas pessoas já é reunião. Três
é comício". Medida semelhante havia sido indicada pelo próprio Jucá. Em
outro áudio gravado por Machado, ele disse que não era bom todos se
reunirem ao mesmo tempo, e sim que Machado falasse com cada líder
político, que depois se encarregariam de conversar entre eles.
Nas conversas, Sarney deixou claro que concordava com a iniciativa de
impedir que o caso de Sérgio Machado fosse enviado para a vara do juiz
Sergio Moro em Curitiba.
"O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito
procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]", disse o
ex-presidente.
OUTRO LADO
Em nota divulgada na tarde desta quarta-feira (25), o ex-presidente José
Sarney afirmou que, não tendo tempo nem conhecimento do teor das
gravações", não tem "como responder às perguntas pontuais" feitas pela Folha.
Sarney disse que conhece o ex-senador "Sérgio Machado há muitos anos.
Fomos colegas no Senado Federal e tivemos uma relação de amizade, que
continuou depois que deixei o Parlamento".
"As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas,
de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de
minha personalidade. Nesse sentido, expressei sempre minha solidariedade
na esperança de superar as acusações que enfrentava. Lamento que
conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas
que nunca desejaríamos alcançar", diz a nota assinada pelo
ex-presidente.
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