Fotos:
Josene Araújo e Brayan LevyJovem Sateré empunha a luva onde estão alojadas as tuandeiras |
Na cultura dos Sateré Mawé, a
ferroada das tucandeiras tem significado de cura, chamada de Vacina do
Guerreiro. “Quem colocou a mão na luva da tucandeira dificilmente adoece, tem
mais sorte no trabalho, tornando-se bom guerreiro, caçador, pescador e pode
casar mais cedo”, explica Ocivaldo que revela a resistência da cultura e a identidade
do seu povo. “Antes todos eram obrigados, hoje eles se oferecem para participar
do Ritual pela empolgação de ver muita gente”, afirma. Para fazer parte é
preciso cumprir algumas regras de não comer sal e animais que não tem dente.
Diferente dos antepassados que os rituais eram escondidos, atualmente até os
brancos podem colocar a mão na luva e participar da dança. O Ritual fez parte
da Ação do governo do prefeito Pe. Carlos Góes, realizado no Marau para
incentivar a cultura do povo de Maués, realizada no Dia do Índio.
O Canto que alivia a dor
O choro
se transforma em canto para aliviar a dor. As vozes dos ferrados se misturam a
dança para aquecer o corpo que deve ficar em movimento durante 24 horas.
Eram
16:00h na Comunidade de Vila Nova do Rio Marau, no dia 18 de abril de 2013,
quando Luiz Perreira, 42 chegou carregando uma pequena luva de tucandeira,
tecida de palha de tucumã. Luiz capturou as tucandeiras logo cedo com outros
parentes e adormeceu-as na folha do caju.
Quem
observava era Jamico Michles, 20, que cumpriria o ritual, participando pela
vigésima vez. O jovem sateré da Comunidade Sagrado Coração de Jesus do Urupadi,
confessava que não estava com medo.
O
cantador Darci da Silva preparava os adornos para a luva com penas de arara
vermelha e penugens de gavião-real. A luva ficou exposta para que as formigas
acordassem.
Com uma
batida forte dos pés, e o canto de aconselhamento, inicia o Ritual. O primeiro
a colocar a mão é Ivanilson 11, que teve o chocalho amarrado na perna. Tão logo
recebeu o instrumento sagrado ouviu-se o choro do curumim que se contorcia de
dor ao ser ferroado por dezenas de formigas. A dor que sentia Ivanilson causou
emoção em quem assistia pela primeira vez o ritual. Conduzido pelo pai o
cantador Darci, formou-se uma fileira de jovens que acompanhavam a dança. Ao
retirar a luva o choro se tornou mais forte. E assim foram com mais cinco
jovens e um veterano.
Atraído o enfermeiro Jair
Machado, 40 da CASAI, que mora na Comunidade Vila Nova, há seis meses pediu
para ser ferrado. Cumpriu a dança e ao encerrar contou que estava com as mãos
apenas adormecidas. “Queria sentir o que eles sentem”,declarou. Após algumas
horas o enfermeiro começou a contorcer de dor tendo que ser atendido com
medicamentos injetáveis, mas sem sucesso para aliviar a dor. Foram 24 horas
chorando, dançando e cantando para aliviar a dor.
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