Artigo
Na primeira parte de minhas
considerações a respeito da crise atual, falei um pouco sobre a crise
estrutural, da qual é inevitável a um sistema que tem como a lógica o acúmulo
de riqueza através do lucro. O Brasil que faz parte desse sistema
internacional, não poderia ficar imune.
O contexto atual é turbulento. Dólar em
alta, inflação, crise de energia, descontrole dos gastos públicos, corrupção,
desemprego, má gestão da coisa pública que implica em dificuldades em promover
políticas públicas em áreas essenciais como: saúde, educação, saneamento
básico, salários compatíveis com o custo de vida, pouco investimento em obras
públicas, por ai vai e tudo isso somado culmina inevitavelmente com a
insatisfação popular. Mas quais as principais causas disso tudo mesmo? Para
Roberto Bitencourt da Silva Doutor em História, professor da FAETERJ – Rio de
Janeiro. Para ele a causa das causas são as perdas internacionais, a condição
dependente do Brasil na cena mundial, trata-se, pois, da participação
subordinada do país na divisão internacional do trabalho. Com o crescimento do
consumo mundial de produtos primários, particularmente da China, a economia do
país andou bem, para os padrões do capitalismo periférico, isso se percebeu
claramente no governo Lula e Dilma que conseguiu compatibilizar diferentes
interesses de classe com distribuição de rendas aos mais pobres, graças ao
aquecimento da economia. De acordo com o professor, há mais ou menos um ano, o
consumo internacional diminuiu consideravelmente, em particular o da China,
isso fez com que a economia brasileira sentisse principalmente na viabilização
das exportações.
É preciso compreender que embora o
Brasil tenha uma indústria forte, o modelo primário-exportador é dominante.
Segundo matéria de O Estado de São Paulo, praticamente 50% da pauta de
exportações giram em torno de petróleo bruto, minério de férreo, soja, açúcar e
café, isso somado a um parque industrial desnacionalizado, grupos fortes do
comércio de varejo comandado por multinacionais, que dominam o mercado interno
extraindo através da mais-valia dos trabalhadores brasileiros lucros
exorbitantes e a maior parte deles não ficam no país, são transferidos grandes
remessas para seus países de origem, comprometendo o crescimento de nosso país,
acredito ser uma causa fundamental para explicar a crise econômica atual
brasileira.
Porém, mister se faz ressaltar que o
Brasil já viveu crises piores do que estamos enfrentando atualmente. Em 1932 a
elite paulistana liderou uma revolta armada contra o governo provisório de
Getúlio Vargas, ou no ano que antecedeu o golpe militar de 1964, quando tanto a
direita quanto a esquerda defendiam uma “revolução”, neste momento da história
estavam presentes, além da crise política e econômica, havia o rompimento
institucional e convulsão social.
Sempre que há crise econômica e no
capitalismo isso é cíclico, concomitantemente emerge a crise política. A atual
não é tão grave como a que culminou no impeachment do presidente Fernando
Collor, nem o revés econômico tão agudo como da época de desvalorização do real
durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando o desemprego chegou a 19%.
Porém, é bom ir devagar com a louça. Não é difícil constatar que estamos
vivenciando as duas crises simultaneamente, e isso, pode trazer sérias consequências
para o país. No impeachment de Collor, “o caçador de marajás” tinha base
minguada no congresso nacional, com a força vinda das ruas, jovens (cara - pintadas)
o impedimento foi inevitável. Hoje a situação não é a mesma, porém com a
desaprovação da presidenta no bojo da operação lava-jato que surrupiou bilhões
em propinas concedidos a parlamentares e a crise econômica que a cada dia pega
mais força, a crise política vai se agigantando. Com base política em números
bastante confortável, porém, na realidade das votações se mostrando precária.
Com um presidente da Câmara acusado de receber propina de cinco milhões de
dólares, rompido com o governo e o presidente do Senado dando uma de Pôncio
Pilatos e muitos parlamentares da base aliada votando com a oposição, as coisas
podem se encaminhar para um desfecho que não é bom para ninguém. Por outro
lado, não deixa de ser positivo se percebermos que a independência das
instituições na condução das investigações revela um amadurecimento democrático
nunca visto na história do país.
No momento de crise é oportuno fazer
uma reflexão a respeito como os seres humanos comportam - se. A crise é feita
por homens e mulheres que tem as mesmas necessidades na vida, porém os
interesses diferentes, os mais fortes economicamente e por consequência
politicamente querem a todo custo, não importa o meio, de fazer prevalecer seus
interesses, isso prova que vivemos em uma luta de classes, embora a grande
maioria incauta da população não perceba.
Isso faz emergir as contradições
latentes no interior da sociedade prejudicando o relacionamento social
aumentando consideravelmente a violência que em nosso país já é alarmante. A
saída existe, é só deixar prevalecer o bom senso, e nesse momento é
imprescindível que os grandes homens, intelectuais que por força de suas
culturas e vivências adquiriram maturidade e sensibilidade perante a realidade
da vida, possam defender a cultura da paz, levantando suas vozes, bradando em
busca de um entendimento nacional. A situação atual do país exige calma,
reflexão, principalmente dos jovens estudantes, democratas, e todos aqueles que
sonham em viver em um país democrático, a hora é de travessia no rio de grande
ventania, precisamos dar forças para os comandantes para que eles não se percam
e errem o caminho ou leve o navio, a naufragar. A ruptura institucional, não é bom para
ninguém, já experimentamos várias vezes e o resultado foi catastrófico,
principalmente para os mais pobres. Cautela e caldo de galinha caipira não fazem
mal a ninguém.
Maués, 03 de setembro de 2015.
Professor Luizinho Aguiar
O autor é Formado em Pedagogia pela Universidade Federal do
Amazonas – UFAM.
E em Ciências Políticas pela Universidade do Estado do
Amazonas – UEA.
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