Artigo
Professor Luizinho Aguiar |
“Nenhum país salva a sua
reputação com os abafos, capuzes e mantilhas da corrupção encapotada”
Rui Barbosa
Muito
se fala em corrupção, ela está estampada nos jornais, nas revistas no bate papo
da esquina em todo lugar. Mas o que vem a ser corrupção, qual sua definição?
Existem inúmeros conceitos muitos consensuais, outros nem tanto. Para este
trabalho utilizamos a definição do Cientista político Americano Joseph S. Nye.
Para ele, trata – se do comportamento de um detentor de cargo público que,
movido por interesses particulares ou para ter alguma vantagem pecuniária ou
ganho de status, adota uma conduta que constitui um desvio das obrigações do
seu cargo ou viola as regras vigentes da sua função para exercer alguma influência
como pessoa privada. Resumindo: a corrupção deve ser entendida como “abuso do
poder inerente a um cargo (público) que lhe foi confiado, visando a obter
benefícios pessoais”
Pesquisas
sérias indicam que a opinião pública brasileira considera a corrupção uma das
principais mazelas do país e a julga responsável por muitos dos problemas que
afligem nossa população. Apesar da urgência evidente da situação, o Brasil
carece de um tratamento sistemático da questão e, sobretudo, de um estudo de
longo prazo que nos ajude a compreender a extensão e a profundidade de um
fenômeno percebido como central em nossa vida pública e sobre o qual sabemos
relativamente pouco.
Se
olharmos para nossa história, veremos que a denúncia de casos de corrupção
esteve presente em vários momentos, em alguns com mais veemência, em outros nem
tanto. Como observou Lilia Schwarcz, durante o império, “atacar o imperador era
sinônimo de atacar o Estado, uma vez que ele o personificava”. Por isso, os
casos de corrupção que surgiram no final do período imperial são um sintoma
muito grave da saúde política daquele sistema. Na primeira República, como
observa José Murilo de Carvalho, o termo corrupção continuou a ser usado como
uma crítica ao sistema de governo, mas não necessariamente às pessoas que
governavam. Essa percepção mudou a partir de 1945. Quando a oposição ao governo Vargas
intensificou sua campanha, baseada em nova idéia de corrupção: “Corruptos eram
os indivíduos, os políticos getulistas, o próprio Vargas. Expulsos o presidente
e seus aliados tudo voltou ao normal. Na ditadura (1964-1985) houve inúmeros
escândalos de corrupção, eu ainda lembro alguns como o caso da Coroa Brastel e
Capemi e olha que na Ditadura muitas informações eram abafadas ou mesmo
abortadas de acordo com as conveniências dos governantes de plantão.
Como
vimos, a população brasileira acredita que a corrupção é um fenômeno
fundamental da vida pública nacional, alguns chegam a afirmar de corrupção
endêmica, alguns autores e jornalistas preferem falar em uma cultura da
corrupção, que seria responsável pela constância do problema em nossa vida
pública.
Para
opinião pública quando se trata de identificar os grupos mais afeitos a serem
corrompidos, as respostas indicam claramente que os diversos poderes, o
Legislativo, o executivo e até o judiciário, poder que possui a missão precípua
de fazer cumprir a lei, fazendo prevalecer a justiça e não a injustiça, e a
corrupção não deixa de ser uma forma de injustiça com a parte mais carente da
sociedade.Seguido pelos órgãos de polícia e pela classe empresarial. Por outro
lado, os setores mais afetados são os pobres, as pessoas mais velhas e as
crianças.
Mas
o problema da corrupção é mais complexo do que se imagina, para tentar decifrar
recorremos a nossa história e lermos os clássicos, como Raimundo Faoro em sua
obra prima Os donos do Poder, aliás, bem atual para compreender os dias atuais,
sobre o assunto. Para o autor a indistinção entre o público e o privado desde
sempre no Brasil a comunidade política conduz. Comanda e supervisiona os
negócios como negócios privados seus na origem e, como negócios públicos
depois, como fundamento do patrimonialismo que infelizmente são práticas
políticas até nossos dias. Não temos como deixar de lado o fato de que o Estado
brasileiro se constituiu a partir de um modelo de organização que ao longo da
história misturou as esferas e contribuiu para sua indistinção. Como esclarece
José Maurício Domingues.
“É
na vinculação entre interesses privados, do indivíduo isolado que suborna o
guarda de trânsito à grande empresa que se articula a parlamentares e
ministérios, passando pelo financiamento de campanhas eleitorais, que as
próprias posições e os cargos estatais são tomados como objeto de posse privada
de seus ocupantes.”
Isso
resume de forma contemplante os fatos vividos no momento, consubstanciada na
operação lava-jato da Petrobrás. O Estado brasileiro de herança patrimonialista
marca de forma decisiva nossa esfera pública, a ponto de considerar
indiferenciados os interesses de natureza pública e privada. O individualismo
características das sociedades contemporâneas alimenta a idéia de que apenas a
soma das vontades individuais pode ser conhecida.
Tentar
compreender o problema da corrupção não é simples e exige estudo e reflexão,
pois é um problema estruturante que existe em todos os países. Porém,
cientistas políticos de renomes colocam os “interesses” como matriz fundamental.
O Foco deve ser posto na maneira como eles buscam se expressar e como
interferem diretamente no funcionamento das instituições. Isso vem clarear da
forma como são criados os partidos políticos no Brasil, partidos são partes de
grupos que compõe a sociedade, reunindo interesses individuais que em algum
momento são homogêneos do conjunto das pessoas. Daí a existência de muitos
partidos políticos no País, alguns que só servem de aluguéis para outros
partidos maiores, que por ocasiões das eleições juntam para viabilizar
coligações partidárias. Quando eleito são fatiados ministérios, secretarias, e
outros órgãos de segundo e terceiros escalões, de acordo é claro, com os
interesses de seus caciques. E assim caminha a humanidade, para os desencontros
das necessidades dos mais carentes, dos pobres trabalhadores que produzem a
riqueza do país, as migalhas que sobram depois da avalanche da corrupção que
alimenta os interesses dos poderosos. Porém, acreditamos que junto dos
interesses está a questão moral das pessoas, o modo como foram criados, o meio
ambiente são fatores importantes que podem contribuir com atitudes desviantes
do ponto de vista de se levar vantagens de forma ilícita, o contraponto é ter
convivido num ambiente onde exista a solidariedade, o valor do orgulho de
ganhar a vida trabalhando honestamente, ensinamentos simples como nossos pais
nos ensinavam. “Ser honesto não é nem uma virtude é uma obrigação”, mas viver
honestamente em nosso país não é tão fácil, como ressaltara o maior dos
advogados deste país, estou referindo-me a Rui Barbosa. “De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder
nas mãos dos maus, o homem chega a rir da honra, desanimar-se de justiça e ter
vergonha de ser honesto”. Porque pela ideologia capitalista o que prevalece
é máxima “tudo tens tudo vales, nada tens nada vales”, mas pelo lado da
consciência vale apena viver em paz consigo mesmo.
A
corrupção embora seja um fenômeno universal, são nos países subdesenvolvidos ou
nos em desenvolvimento que encontram terrenos mais férteis para proliferar,
nesse sentido países africanos asiáticos e, sobretudo da América Latina da qual
o Brasil faz parte é onde há grandes incidências de manifestações de atos de corrupção.
Por outro lado, países desenvolvidos, como: Dinamarca, Suécia, Finlândia,
Noruega, Alemanha, Suíça, Cingapura, Nova Zelândia e outros similares a
corrupção quase inexiste ou pouco se ouve falar. O que se pode concluir que
além dos interesses das pessoas, da ganância. O fato de ter uma população em
sua maioria alienada, incauta como a brasileira, pelo fato de nosso sistema
educacional ser falho, contribui decisivamente para o aparecimento do fenômeno
da corrupção, uma vez, que os países citados, possuem sistemas educacionais de
qualidades, de acordo com pesquisas feitas pela ONU, através da UNESCO. Não
podemos deixar de lado também a atuação do judiciário que embasado em leis
obsoletas agem em complacência com os objetivos dos corruptos, embora nos
últimos dias as coisas comecem a melhorar em torno do fato de se fazer justiça
quando se noticia a prisão de poderosos não somente políticos, mas também
grandes empresários Isso é um bom precedente que nos animam e nos acalentam e
reforçam nossos sonhos de vivermos num país realmente democrático em que
prevaleça o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei.
Referências
Corrupção
e Sistema Político no Brasil. Org. Leonardo Avritzer e Fernando Filgueras - Rio
de Janeiro; Civilização Brasileira, 2011.
Professor
Luizinho Aguiar
Formado
em Pedagogia pela UFAM
E em Ciência Política pela UEA
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