Meu pai é um camponês que não teve muito estudo, estudou até a 4ª série, isso lá nos idos de 1945. Pensar que naquela ocasião, o sertão Nordestino estava mergulhado em um grande déficit educacional, faz-me ver as grandes dificuldades que passavam as crianças daquela época. Meu genitor foi vítima de seu tempo. Analfabeto funcional, aprendeu apenas a rubricar seu nome e a efetuar as quatro operações superficialmente, na antiga casa de pau-a-pique, onde uma velha tia lhe ensinara no velho e sofredor sertão cearense. Fazendo um paralelo entre a educação atual e a daquele tempo, constata-se que, se agora os recursos já são tão pequenos e na maioria das vezes desviados, naquela ocasião a faceta da história da educação era completamente outra. Em vista de ser um lugar, onde nasceram grandes escritores ávidos da Literatura Brasileira, tais como José de Alencar e Raquel de Queiroz, o caminho trilhado pelo meu genitor, entretanto, seria o inverso. Disso, já se pode ter uma ideia de que, pais analfabetos, geram filhos ignorantes. Porém, no meu caso (como filho) foi diferente, ocorreu exatamente o contrário. O pouco que meu pai pudera me dar, não deixei escapar. Tive na minha infância, na juventude e na minha mocidade a fiel oportunidade de estudar, assim como muitos dos meus grandes amigos da minha querida e amada Maués. Peço perdão aos que não tiveram a oportunidade de estudar, aos fracos que ficaram no meio do caminho e aos que desistiram para serem chefes de suas famílias. O que contribuiu de fato para tornar-me um voraz leitor foi o lado materno. A faceta materna foi o signo responsável pela abertura da fenda no mundo da leitura dos grandes clássicos. Minha mãe, que hoje mora no campo, conseguiu me dar todo esse prazer de tomar gosto pelo livro, de sentir seu peso, sua cor, seu cheiro, enfim. Apesar de ter estudado até a 7ª série, adquiriu de maneira satisfatória, o conhecimento para me mostrar o valor que o hábito da leitura faz na vida dos homens. Ela deixou os bancos escolares ainda muito cedo e jovem... (risos e lágrimas escapam-me) para a formação de nossa família, contudo, isso não afetou o meu lado cultural e nem por isso fiquei órfão da leitura. Ora, se o lado materno foi a alavanca dos bons hábitos da leitura, vale salientar que a educação religiosa também se fazia presente. Vale lembrar a ortodoxia de minha saudosa vó Mª de Lourdes, outra nordestina que impulsionou minha vida cultural com sua literatura pura de cordel. Lembro-me com saudade a declamação dos velhos poemas que proferia nas manhãs de domingo, antes de irmos ao culto dominical. As ladainhas, os salmos, as parábolas, essas passagens que hoje não me canso de exaltar, em muito contribuíram para a formação de meu intelecto. Minha querida vó nos recomendava a leitura bíblica, pois nas aulas de catecismo, no antigo Colégio São Pedro (demolido para reconstrução, com outra estética) seria de fácil interpretação. Que tempos! Que augusta felicidade! Minha casa dista poucos metros da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, certa vez, lendo uma lição de casa para entregar à professora, me deparo com o já falecido padre Armando. Ele me toma o caderno e começa a ver os erros de língua portuguesa. Vê um erro de ortografia no verbete "perturbe" (no meu caso, escrevi pertube), logo abre um diálogo sobre lógica e produção textual que naquele momento foi prestimoso para a formação da minha cultura como leitor. Desta maneira, sou grato pela oportunidade que meus pais, minha vó e o pároco me deram, depois dela, nunca mais fui o mesmo e até hoje sou capaz de devorar um texto vide bula de remédio ou até mesmo antigos jornais jogados nos bancos das praças públicas. Como o texto é longo, terá a parte 2 em outra produção.
Dalmo Ribeiro.12-08-2011.Manaus-Am. 18:05 hs.
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