Carta a Jefferson Peres

Caro senador, os homens sábios são sempre muito generosos e têm especial generosidade com os jovens.

Álvaro Maia, nas comemorações do centenário da adesão do Amazonas à independência do Brasil, em 1923, entusiasmou um Teatro Amazonas lotado com sua “Canção de Fé e Esperança”. Naquele momento de grave crise econômica pela queda da borracha, o ilustre amazonense exortava a fé no Amazonas e a esperança de que a juventude reergueria o Estado. Rui Barbosa, não podendo ir a uma formatura da qual era o paraninfo, escreveu e encaminhou a celebre “Oração aos Moços”, onde desconstitui o ditado “o que os olhos não veem o coração não sente”, para dizer e provar que o coração é capaz de sentir muito mais do que olhos podem ver. Não estivesse certo, não existiria saudade. O seu gesto de generosidade, senador, é mais simples, mas não menos representativo da sua sabedoria.

Eu, em 2007 um jovem vereador, fui escolhido pelo prefeito Serafim para assumir o IMTU, num momento de grave crise no setor. Tão logo assumi, recebo uma ligação sua – então um dos senadores mais influentes do país – convidando-me para que fosse até a sua casa. Recebido com o carinho e a atenção que só os bons homens dispensam aos jovens, fui, por horas, aconselhado sobre questões do sistema, mas, acima de tudo, alertado sobre a necessidade de autovigilância ética permanente e sobre os cuidados para não ser seduzido pelo poder e suas armadilhas.

Eu não o conhecia, nunca havíamos conversado antes, mas sai da sua casa com a impressão de que o senhor falava com a alma de um homem sábio e generoso e, por isso, a minha alma de menino era capaz de escutá-lo.

O dia 23.05.2012 marca 4 anos da sua morte e esta mensagem expressa a minha forma de atender ao pedido de sua família e dedicar momentos de oração e bons sentimentos. Quero terminar dizendo-lhe que só há uma forma de homenageá-lo de forma verdadeira, seguindo o seu exemplo de retidão, ética e firmeza de princípios no exercício da vida pública.

Sentimos saudades, senador.