sexta-feira, 13 de novembro de 2015

PROFESSORA LYGIA MAGNANI, UM EXEMPLO DE VIDA DEDICADA À EDUCAÇÃO



 Artigo
Professora Lygia Magnani   
Professor Luizinho Aguiar - Escritor
 Quando se reside em uma cidade, com um pouco mais de 50 mil habitantes, onde as relações sociais, ainda apresentam características de laços comunitários, pelo fato da maioria das pessoas se conhecerem, sobretudo na zona urbana, é fácil detectar entre os habitantes aqueles que, de alguma forma se destacam em suas profissões. No aspecto educacional, sem dúvida a Professora Lygia Magnani, acredito eu, ser unanimidade na Terra do Guaraná, e no último século o expoente maior do ensino em nossa cidade, até porque, poucos professores conseguem por mais de seis décadas labutar na profissão que considero a mais importante de todas. A história de vida de nossa mestra se confunde com a própria história da educação formal do município de Maués.
Professora Lygia nasceu em Maués em 1929, nessa ocasião nosso país era governado por Washington Luis, proveniente da Velha República, da qual as oligarquias cafeeiras eram donas do poder. Filha de italianos que vieram para cá na década de 1920, persuadidos pelo comerciante amigo da família José Faraco. Nesse tempo nossa cidade possuía duas ruas a Dr. Pereira Barreto, chamada de rua da frente e a atual Floriano Peixoto, que os moradores da época apelidavam de rua de trás. Existia também o atual bairro Ramalho Júnior, a famosa Aldeia. Como ainda não existia a ponte, para chegar ao bairro só de canoa, meio de transporte mais utilizado na época. Já existia também a atual Praça Coronel João Verçosa que nos primórdios de nossa história fora cemitério dos índios.

Aos doze anos Professora Lygia fora estudar na capital do Estado, no famoso colégio Dorotéia, ainda hoje existe esta escola, naquele tempo só recebia meninas, atualmente já aceitam também alunos do sexo masculino. Nessa escola, concluiu o antigo ginásio, atual ensino fundamental e o Pedagógico ou Normal, que até ser extinto há poucos anos era denominado de Magistério, após concluir o ensino médio foi estudar na Faculdade do Rio de janeiro no Município de Parintins.  Nosso paradigma do ato de ensinar, para minha surpresa, o magistério não era sua primeira opção profissional, na verdade Lygia Magnani queria mesmo era ser médica, mas pela força patriarcal características daqueles tempos, seu pai foi logo dissuadindo de seu sonho disse ele “a Medicina é para homem, mulher tem que ser professora”, resignada, obediente como era os filhos de outrora, prontamente aceitou o desígnio do pai. Certamente perdemos uma boa médica e ganhamos uma excelente professora. Começou sua trajetória como mestra na Escola Santina Felizola a única da cidade, fundada através do decreto Lei nº 07 de 18 de junho de 1947, no governo do Sr Leopodo Amorim da Silva Neves, na gestão do senhor prefeito Raimundo Gomes de Albuquerque, seu nome foi dado em homenagem à primeira professora normalista de Maués, SANTINA DE ALBUQUERQE FILIZOLA, não sei por que e ninguém soube me informar porque o nome da escola foi grafado Felizola, ao invés de Filizola, como corretamente era seu sobrenome, depois de cinco anos, em setembro de 1952, foi fundada a escola Estadual São Pedro, o segundo educandário da cidade. Por perseguição política, ato corriqueiro da política Maueense, prática essa que infelizmente ocorre até hoje. Foi transferida para o município de Barreirinha e depois Manaus, onde lecionou no colégio de Freiras São Luis de Gonzaga, localizado no bairro São Raimundo. Neste estabelecimento, logo que chegou não fora bem aceita, por tratar-se de professora oriunda do interior, pura demonstração de preconceito, fato que ainda ocorre, hoje com menos frequência. Mas a ilustre filha da Terra do Guaraná, demonstrou na prática, competência, dedicação, amor, predicativos essenciais para uma professora. Reconhecendo seu talento, a Diretora do Educandário recomendou seu método a todas outras professoras. Professora em sua gloriosa trajetória tem muitas histórias para contar, sempre advogando as causas dos mais pobres, especialmente quando percebia nos alunos o sacrifício, a vontade de aprender. Eis algumas histórias que retratam essa atitude altruística. Ela tinha um aluno chamado Osmar que anos depois se tornara importante funcionário público, pelo fato do discente ajudar o pai a puxar água através de uma máquina apelidada de “burrinho”, todos os dias chegava atrasado para as aulas, e a Diretora (hoje se denomina Gestora), conservadora e insensível da realidade social dos alunos não deixava nenhum aluno entrar na escola se estivesse atrasado com relação ao horário estabelecido. Aí que entra o gesto nobre da educadora. Combinando com aluno, este passava antes na escola e já deixava seus materiais, incluindo a farda, ao voltar do trabalho o aluno ajudado pelos colegas pulava pela janela para estudar, tudo com a complacência da educadora, sabia que estava agindo de acordo com a sua consciência, jamais iria sacrificar um aluno pelo fato de ajudar seu pai no trabalho, este aluno se tornou um dos melhores da classe e bem sucedido na vida. Outra história interessante, por boa coincidência aconteceu com meu irmão Francisco Sales Rodrigues Aguiar, aluno inteligente e esforçado tinha todo o apoio da Professora. Nas férias Francisco ia para a zona rural ajudar nosso pai no trabalho da roça e no corte de seringueiras. Surgiu o concurso do BEA - Banco do Estado do Amazonas (extinto), porém as inscrições já tinham encerradas, foi então que Professora Lygia, lembrou do pupilo promissor, e usando de sua influência resultado de admirável trabalho, foi até o gerente do Banco, Sr. Simão Barros e solicitou em caráter de exceção que fizesse a inscrição do seu aluno, pela qual pagaria o valor da mesma. Ela conseguiu o pleito e por carta mandou avisar Francisco que não a decepcionou, sendo aprovado no concurso e assumindo o posto de trabalho na capital do Estado. Hoje Chiquinho é aposentado como fiscal do INSS. Outro caso interessante, que vale a pena relembrar é a respeito de um aluno Léo Sakiama, o japonês, menino indisciplinado rebelde, que por muitas ocasiões sua genitora o amarrava no pé da máquina de costurar, repetia sua rebeldia na sala de aula e a mãe já cansada de seus atos repugnantes chegou com a professora e disse – eu vou tirar esse menino da escola, foi então que Lygia assumiu a responsabilidade, e a mãe lhe disse então se algo de ruim vier acontecer a culpa será sua professora. Ele não só melhorou o comportamento, como se tornou um dos melhores alunos. Atualmente é piloto da Marinha do Brasil, e em suas andanças por esse imenso país manda postais dos lugares visitados, como prova de gratidão e admiração da professora educadora, que pelo nobre gesto salvou-o de uma possível vida marginal. São muitas histórias ao longo de mais de seis décadas dedicado ao magistério, histórias que dignificam o ser humano e nos renova a esperança na humanidade.
Professora Lygia no início e no fim da carreira no magistério trabalhou como voluntária, sempre socorrendo os mais pobres. Quando percebia que seus alunos estavam com fraco desempenho, os levava para sua casa para recuperar do malogro nas disciplinas, sem cobrar nada e no final do ano estes alunos eram promovidos. Mas é nas últimas duas décadas que nossa Educadora maior provou que seu trabalho rendeu frutos significantes para a educação do município, do Estado e até mesmo a nível nacional. Em 1994, a convite de seu ex-aluno e já pároco da cidade, Padre Dílson Brandão (já falecido) praticamente o intimou para uma empreitada muito interessante, coordenar os trabalhos educativos da Escola João Paulo II, de responsabilidade da igreja católica. De início relutou, mas diante do apelo do clérigo cedeu e começou o seu brilhante trabalho, a frente da escola, o êxito foi tão grande que todos os pais queriam vagas para seus filhos, infelizmente a escola não comportava a demanda, tanto é que, em 2011 a média da escola chegou a patamar nunca alcançado por uma escola pública do Estado, 7,4 mensurado pelo IDEB – Índice da Educação Básica, colocando a escola em patamares superior a muitas escolas de países desenvolvidos, como por exemplo, a Coréia do Sul e entre os cinco melhores do país. Considerando que o Brasil possui 5.565 municípios, no mínimo é um feito espetacular. Isso levou a Escola São Pedro, da qual o João Paulo era anexo a receber vários prêmios de reconhecimento. Perguntei para a secretária da Escola qual o principal segredo do sucesso, ela disse são conjuntos de fatores, mais o mais importante é a Filosofia de trabalho da professora Lygia, que consiste basicamente em dois pilares. Só se promove aluno do ensino fundamental se dominar bem a leitura, escrita e as quatro operações matemáticas, o outro é o compromisso de ensinar com dedicação e amor, sentimentos aceitos e internalizados nas ações da equipe de colaboradores da escola, cuja, a principal meta é a aprendizagem dos alunos, não só das disciplinas curriculares, mas, sobretudo, da formação ética e moral. Parece óbvio, mas isso não se vê, pelo menos no mesmo patamar em outras escolas do município.
A vida da Professora Lygia, dá um livro de grande espessura, quem sabe um dia um de seus alunos poderá escrever, fatos existem em abundância, em mais de 60 anos dedicados a educação. Hoje aos oitenta e seis anos, ainda demonstrando lucidez, um olhar suave que nos deixa muito bem ao ficar ao seu lado. Perguntei a ela qual seria a frase que resumiria sua trajetória de educadora, e ela ficou pensando e disse talvez a frase de São Paulo, “Combati o bom Combati” refletindo sobre isso acho que de certa forma, contempla sim sua vida de dedicação à educação, principalmente dos mais pobres. No final de minha rápida entrevista perguntei à entrevistada. O que é ser professora? Ela, num gesto meigo, um sorriso contemplativo, olhar para o alto, como que de súbito tivesse fazendo um balanço de sua vida, taxativa disse. “uma mãe que ama seus filhos”. Professora Lygia não teve filhos consanguíneos mais ganhou milhares de filhos no decorrer de sua vida, semeando sementes de sabedoria, encaminhando os discentes para o caminho do bem, da dignidade. Para encerrar minhas singelas palavras, quero dizer a nossa educadora maior que ela é como a Nirvana que tem a paz e plenitude a evasão de si mesma, a realização da sabedoria em prol dos outros, tens o espírito tomado por alguns dos melhores sentimentos que a alma humana pode abrigar. Honesta e sincera possui a humildade a virtude que mais aproxima do criador. Combateu sim o bom combate, como fazem as pessoas que dignificam suas vidas, que produzem e fazem os outros produzirem, que não se acomodam e aproveitam a oportunidade de ter nascido com grandes potencialidades e estas sejam volvidas para a prática do bem, não existe melhor maneira de agradecer a Deus pelo dom da vida, do que doar a vida em prol dos irmãos. Muito obrigado por você existir professora. 
Maués, 13 de novembro de 2015.
Professor Luizinho Aguiar

Um comentário:

  1. Sem dúvida um dos melhores artigos.
    Com toda certeza, professora Lygia é uma das maiores responsáveis pela ótima educação em nossa cidade.

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