Artigo
Professor Luizinho Aguiar |
Ao observarmos o funcionamento da sociedade
no cotidiano, temos a impressão que vivemos harmonicamente, e que todas as
pessoas têm oportunidades iguais de ascender socialmente, viver bem a vida,
ledo engano, a própria realidade vem desmistificar essa observação. Mas o que é
importante ressaltar é que grande parte da sociedade não consegue perceber
nitidamente as grandes diferenças sociais existentes no interior da sociedade,
e de que maneira essas diferenças são construídas ao longo da história.
Por que isso acontece? É exatamente
aí que entra o papel da Ideologia, ou seja, o conjunto de representações e ideias,
bem como de normas de conduta, por meio das quais o homem é levado a pensar,
sentir e agir de uma determinada maneira, considerada por ele correta, “natural”.
Assim não percebe que essas representações e normas convêm à classe que detém o
poder na sociedade. Essa percepção da realidade é ilusória na medida em que
camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a una e
harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais. A função
da ideologia é, pois, ocultar as diferenças de classe, facilitando a
continuidade da dominação de uma classe sobre a outra. A ideologia assegura a
coesão entre os homens e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e
pouco recompensadoras, em nome de Deus, do dever moral, ou simplesmente como
decorrentes da ordem natural das coisas.
O problema começa quando pretendemos
afirmar que tudo depende apenas do esforço e da dedicação pessoal, como
anunciam os manuais de auto-ajuda, os apologistas da burguesia, a maioria dos
professores e os desinformados. Se isso fosse real, milhões de pessoas
esforçadas que dão um duro danado, não estariam desempregados, ou trabalhando
por conta própria, fazendo biscates, sujeitando-se a qualquer oportunidade que
lhe dê alguma renda. Somente em igualdade de condições é possível exigir ou explicar
pelo empenho pessoal o resultado de qualquer coisa. Como explicar que um filho
de um operário não consegue melhorar o padrão de vida, o seu insucesso é
considerado resultante de sua incompetência, quando na verdade isso é efeito de
outras causas, tais como as condições de saúde, educação, dificuldades de toda
ordem de sua família, os defensores da ideologia do mérito invertem o fato ao
explicar a realidade, o que é apresentado como causa, é na verdade
consequência, ele joga um jogo de “cartas marcadas” as possibilidades de
melhoria não dependem dele. São um conjunto de situações adversas que colocam
este trabalhador em desvantagem.
Em outros modos de produção como: o
escravismo e o feudalismo havia estatutos diferenciados para os desiguais, já
era preconizado na lei que os trabalhadores não tinham direito a quase nada.
Por exemplo, no Brasil os escravos tinham direito aos três pês: Pão para não
morrer de forme, pano para não andar nus e pau para não fugir e andar na linha
de acordo com a vontade dos senhores, quase igual era a situação dos servos,
preso a terra por uma série de obrigações das quais eles não podiam se livrar,
mobilidade social nessas circunstâncias não poderiam existir.
No sistema vigente, capitalista, o
trabalhador é “livre” e não possui nada a não ser a força de trabalho do seu
físico e de sua mente. Expropriado dos meios de produção é ele que vai se
apresentar voluntariamente ao dono da empresa para vender sua capacidade de
trabalho, em troca recebe um salário necessário para manter sua vida. Dessa relação,
caracterizada pela mais valia o que se pode constatar é o que já é histórico a
exploração do homem pelo homem. Sistema dividido em classes sociais distintas e
gerador, pela própria lógica de acumulação de riqueza, geram contradições de
inumeráveis misérias pelo mundo afora. Nesse sentido o poder da ideologia é o
de fazer com que os que não conseguem certo patamar na posição do status quo da
pirâmide social atribuam a si mesmo o seu fracasso gerando resignação. Nessas
condições a mobilidade social ocorre como exceção, embora seja anunciada como
regra. São poucos que conseguem ascender socialmente das classes populares para
as classes médias. Os que conseguem são pela via da educação, resultado de
muito esforço e dedicação, e mesmos esses vencedores às vezes corroboram com os
discursos dominantes “se eu venci, porque você não pode vencer”. Não obstante o
discurso da meritocracia, a realidade nua e crua não pode ser negada. A imensa
maioria empobrecida da sociedade é realidade existente esta aí para quem quiser
ver.
Portanto, na sociedade existe a
aparência e a essência a forma e o conteúdo, é fácil perceber a aparência e a
forma, é como uma água poluída de boa aparência nos induz ao engano só com uma
análise minuciosa poderemos saber o grau de impurezas existente no líquido
precioso. Assim funciona a sociedade, a grande maioria dos indivíduos não
consegue perceber as coisas como são na realidade, pois a ideologia, no caso a
ideologia do mérito, tem a função de escamotear, esconder os fatos, mas aqueles
que se preocupam em entender as relações sociais são capazes não só de
compreender mais de desmascarar a forma sutil que os ideólogos de um sistema
excludente tentam apresentar como verdadeiro, mas, a realidade desmente. Só uma
boa educação é capaz, pelo menos de retirar a viseira de nossos olhos e nos
fazer enxergar bem claramente o mundo injusto em que vivemos.
Não quero com isso desvalorizar todos
aqueles que conseguiram ascender socialmente, como resultado de muito esforço e
dedicação. Conheço famílias da zona rural de Maués, que se alfabetizaram já adolescentes,
seus pais levaram décadas remando quilômetros para levar alimentos para seus
filhos na cidade, geralmente morando em casa de parentes, amigos e até
estranhos, nas férias voltavam para o interior e acordavam uma hora da manhã
para cortar as seringueiras e produzir látex, em outro horário plantar juta,
feijão, milho e outras culturas e hoje são contabilistas economistas pedagogos
e outros profissionais importantes, isso é bonito e admirável, mas o que é
necessário ressaltar que esses fatos são exceções e não a regra como devia ser
se vivêssemos numa sociedade progressista, porque o progresso é medido, quando
se é capaz de perceber que a grande maioria pode melhorar de vida e ascender
socialmente, infelizmente não é isso que ocorre em nossa sociedade.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.
Filosofia da Educação, 2ª Ed. revisada e ampliada. São Paulo: Moderna, 1996.
Maués, 30 de outubro de 2015.
Professor Luizinho Aguiar
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