Professor Luizinho Aguiar |
Neste país, de tantos contrates uma cena já
faz parte da paisagem brasileira, que de certa forma nos envergonha, pelo fato
de sermos um país rico, possuindo um dos principais PIB - Produto Interno Bruto
do mundo o quinto em extensão, constatar que em quase todos 5.565 municípios
existem um contingente de excluídos, os moradores de rua.
Será que alguém em sã consciência gostaria de
morar nas ruas, em baixo de pontes, viadutos? Acredito que não. A globalização
e o avanço tecnológico que tem alcançado diferentes sociedades têm gerado
consequências negativas, configuradas na reprodução de desigualdades sociais e
na falta de garantias sociais para grande parte da população. Em pleno século
XXI, constata-se que a civilização ao longo dos anos não foi capaz de
constituir um pacto que trouxesse melhorias sociais. As últimas quatro décadas
foram decisivas para a mudança nas características da sociedade ocidental. Com
intuito de aumentar seus lucros ainda em patamares maiores, as grandes empresas
fizeram grandes investimentos em tecnologia de ponta, diminuindo
consideravelmente os índices de emprego, é bem verdade que neste contexto já
não há vagas suficientes, até mesmo para pessoas com ensino médio e superior
que aumentam as filas dos desempregados. Sem empregos, há pouco espaço para a
vida vivida como projeto.
Sem trabalho não há honra como canta Raimundo
Fagner, desempregados, desiludidos a massa vai se tornando vulnerável, o
próximo passo é a forma mais aguda, a exclusão social. A opção que resta, como
denomina Castel (1997) aos sobrantes, pessoas normais, mais inválidas pela
conjuntura capitalista, como decorrência das novas exigências da
competitividade e da redução de oportunidades e de emprego. Nesse contexto que
se insere a população em situação de rua. População heterogênea, compostas por
pessoas com diferentes realidades, mas que tem em comum a condição de pobreza
absoluta, a miséria. Já não se sentem como componentes da sociedade formal. São os excluídos por não conseguirem
alimentar seus filhos, pagar seus aluguéis, sem paredes e tetos, não lhe resta
outra saída, como diria Drummond e agora José a festa acabou, a luz apagou, o
povo sumiu, a noite esfriou, só lhe resta a solidão, mulher já se foi não aguenta
mais essa situação.
Se
formos fazer uma radiografia dos moradores de rua, vamos encontrar uma amalgama
complexa de definir quem são os moradores de rua, porém, não é tão difícil
constatar algumas características estruturais comuns a esses irmãos brasileiros
excluídos. São homens, mulheres, jovens, famílias inteiras que de algum modo
sofreram algum tipo de infortúnio, resultado da desagregação progressiva das
proteções ligadas ao mundo do trabalho, rompimento de algum laço afetivo,
fazendo com que aos poucos fossem perdendo a perspectiva de projeto de vida,
passando a utilizar o espaço da rua como sobrevivência e moradia. A perda de vínculos
familiares, decorrente do desemprego, da violência, da perda de algum ente
querido, perda de auto-estima, alcoolismo, drogadição, doença mental, paixão
não correspondida que deixa a pessoa sem o poder de reagir, nesse caso é muito
mais presente no comportamento do homem, entre outros fatores, é o principal
motivo que leva os indivíduos a morarem nas ruas. São histórias de rupturas sucessivas
e que com muita frequência, estão associadas ao uso de álcool e outras drogas
ilícitas, não só pela pessoa que está na rua, mas por outros membros da família.
É muito comum também encontrar pessoas que deixaram suas cidades para
aventurar-se nas grandes capitais, sem instrução nem uma preparação que possa
contribuir para adquirir alguma renda, passa a viver de biscates unicamente
para conseguir o alimento do dia, com o passar do tempo a situação vai
piorando, doenças oportunistas vão se apoderando do corpo debilitado, que não
consegue ingerir calorias suficientes que o corpo exige. Sem a capacidade de
ergue-se vão se entregando as relações promíscuas com colegas que o destino lhe
propiciou, dessa relação resulta doenças infecciosas como a AIDS e outras.
Também é comuns encontrar jovens mulheres grávidas que vão proliferar não só
gente, mas, sobretudo mais problemas mais tristezas e pena aos abastados que transitam
cotidianamente pelos grandes centros das grandes cidade desse imenso país.
Os moradores de rua são os excluídos da
sociedade, que pela lógica de acumulação de riqueza, pelo individualismo
sistemático, egoísmo que impede de ver no outro seu irmão, pela ausência de
políticas públicas reparadoras, pela desagregação familiar, como resultado dos
tempos atuais, onde os valores fundamentais que são aprendidos na convivência
familiar, não são vividos, até porque a família brasileira vai desintegrando
numa velocidade assustadora, a maioria das pessoas não quer mais constituir
famílias, as relações são efêmeras, “ficantes” como dizem os jovens, mal sabem
eles que num futuro bem próximo é algum membro da família que poderá socorrer
quando for acometido por doenças e precisar de apoio num leito de hospital. Por
tudo isso, a cada ano vai aumentando a população de rua, foi só o que sobrou de
vidas dilaceradas pelo sistema, pela desagregação da família, pela insensibilidade
de governos incompetentes, corruptos que só pensam em si. O que nos acalenta um
pouco, são atitudes de voluntários, geralmente jovens preocupados com esses
desfavorecidos, que através de projetos altruístas mitigam a dor daqueles que
apenas a rua sobrou.
Nossa vida não é um caminho retilíneo, na luta
pela sobrevivência nos deparamos com muitas situações que são resultado, muitas
vezes de escolhas infelizes, outras são impostas por um sistema que pela
própria natureza de acumulação relega aqueles que não tiveram oportunidades na
vida, a esses sobrantes mais que de alguma forma tiveram um pai uma mãe de
certo que não acompanhou a vida do filho ou da filha, são os abandonados
socialmente e familiarmente, sem suporte de quem deveria dar, vai descendo
materialmente, moralmente ladeira abaixo, sem nada para encostar, olhar frio de
alguns, piedade dos outros, e assim milhares de vidas vão definhando, sem
sonhos, sem motivação o que lhe resta apenas o teto azul democrático do céu.
Não podemos dizer de forma nenhuma que vivemos numa democracia, quando
brasileiros nascidos neste torrão, só resta o chão da rua, o frio e a falta de
pão, em alguns casos raros a mão estendidas daqueles que ainda se compadecem da
dor do irmão.
REFERÊNCIAS
BAUMAN,
Zigmunt. O mal-estar da pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
BULLA,
l C; MENDES, J. M. R.; PRATES, j. C (Orgs.). As múltiplas formas de Exclusão
Social. Porto Alegre: federação Internacional de Universidades Católicas:
EDIPUCRS, 2004.
Maués, 21 de
outubro de 2015
Professor
Luizinho Aguiar.
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