Josene Araújo
Rafael Michiles
Foto: Fernando Cavalcante
Comparados a um espetáculo a céu aberto, as lendas e mito
do Guaraná, que contam a origem do povo Sateré, ganham a cada ano elementos que
engrandecem a gênese. Os grupos Maraguás, Porantim e CDM encenam a ópera, onde
os atores e bailarinos contam a história unindo gestos, dança contemporânea e
mitologia indígena, acompanhados por uma trilha musical diferenciada, feita ao
vivo com elementos musicais rústicos feitos de material encontrado na natureza
e que dão vida aos atos apresentados. Os grupos se apresentam na noite de
sexta-feira (29) na Festa do Guaraná.
A versão Cereçaporanga é narrada pelo grupo Porantim.
Essa é a versão tradicional, contada pelo escritor Homero de Miranda Leão, no
poema A Lenda do Guaraná, apresentada desde o início da festa, há 37 anos. Ao
longo do tempo vem sendo adaptada e adquiriu caráter profissional, sendo
apresentada desde 2004 pelo grupo.
Uma das mais belas versões da origem do guaraná é narrada
na versão Cereçaporanga - a história do romance proibido entre uma bela índia
Sateré e um guerreiro Mundurucu, que fogem em nome do amor, causando fúria na
tribo. A partir daí desencadeia-se uma sucessão de fatos espetaculares, que
falam da vida e da cultura dos Mawés. Desse amor desfeito, nasceu o guaraná dos
olhos da índia castigada com a morte.
Com 60 pessoas no elenco, entre dançarinos, figurantes e
músicos, o Porantim ensaia há 2 meses para encenar sua versão, com preparação
de elenco, laboratório e triagem de bailarinos. Para Djalma Cardoso, diretor da
lenda, essa versão é a mais tradicional da cultura mauesense e da festa. “A
figura de Cereçaporanga está tão enraigada na história da festa, que as rainhas
do Guaraná representam a índia lendária, por exemplo.”, defende.
A versão ancestral da origem do Guaraná, relatada pelos
tuxauas mais antigos de tribo Sateré Mawé é contada pelo Maraguás e fala da
existência de uma sacerdotisa (Onhiamuaçabe) que em contato com uma serpente
encantada, dá origem a um menino odiado pelos tios invejosos e morto pelos
guardas do Noçokém “lugar encantado”. A mãe eterniza o filho, metamorfoseando-o
em frutos do Warana Cece e Warana Saãg (falso). O filho ressuscita, dando
origem a tribo Sateré.
Apresentado pela primeira vez em 2008, essa versão foi
resgatada em 2009. O Maraguás conta com 70 pessoas no elenco, dançarinos,
músicos, coreógrafo e equipe de apoio. O grupo trabalha desde 2008 com a
história do guaraná, valorizando o talento da juventude mauesense.
Alcinei Pimentel destaca para a apresentação na festa, o
resgate de rituais antigos, como o alucinógeno Paricá, extinto no século XVII.
“Essa versão é relatada desde os tempo imemoriais até o
período contemporâneo pelo povo Sateré. Essa é a lenda que vem da tribo”,
afirma.
Seguindo a mesma linha, o CDM reafirma essa história,
sendo baseado em um conto do escritor parintinense Simão Assayag, misturando a
crença e costumes Sateré, sofrendo adaptações. Dos olhos do curumim plantados
pela mãe, nessa versão, é que brotou o guaraná.
Apresentada desde 2007, a Lenda do Curumim é encenada por
43 pessoas e já foi apresentada duas vezes no Teatro Amazonas, sendo também a
lenda campeã do 1º Concurso de Lendas, há dois anos. Marquinho Moreira,
fundador e diretor do CDM, aposta na emoção para surpreender o público. “O foco
do CDM sempre foi inovar e emocionar, com cuidado em se manter fiel ao contexto
histórico”, diz. O grupo vem ensaiando há 3 meses para cumprir essa promessa.
As Lendas e Mito do Guaraná são divididas em 3 atos, onde
cada grupo defende sua versão, com apoio da Prefeitura de Maués, através da
Secretaria de Cultura e Turismo. A apresentação acontece na 2ª noite da 34ª
Festa do Guaraná.
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