Extraído do Jornal O Globo
O GLOBO tem acesso a dados do SwissLeaks e revela que entre 8.687 brasileiros correntistas do HSBC suíço há envolvidos em vários escândalos, como Lava-Jato, caso Alstom, do metrô de SP, e máfia da Previdência
Envolvidos em escândalos de corrupção milionários no Brasil estão
entre as milhares de pessoas que guardaram dinheiro em contas secretas
na Suíça. No acervo de 8.687 brasileiros que foram correntistas do HSBC
em Genebra, surgem ao menos 23 personagens de dez casos de suspeita de
desvio de dinheiro público ou fraudes em instituições financeiras,
incluindo o caso Alstom, a operação Lava-Jato e fatos mais antigos, como
a máfia que desviou US$ 310 milhões entre 1989 e 1991 da Previdência
Social.
A revelação dos nomes, que faz parte de uma detalhada
apuração conduzida nas últimas semanas pelo GLOBO em parceria com o UOL,
é o ponto de partida de uma série de reportagens sobre as contas
secretas do HSBC, que ficaram conhecidas no mundo como SwissLeaks
(vazamentos na Suíça). Os personagens foram descobertos em consulta a um
conjunto de dados vazados em 2008 de uma agência do “private bank” da
sede da instituição financeira em Genebra. O acervo contém informações,
que datam de 2006 e 2007, sobre 106 mil clientes de 203 países. Juntos,
eles movimentaram valor superior a US$ 100 bilhões.
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Como
as informações vazadas são incompletas, não se sabe precisamente o
montante do dinheiro que circulou pelas contas dos 23 brasileiros. O
levantamento, com base nos valores disponíveis, encontrou saldos que
variaram de US$ 1,3 mil a US$ 6,9 milhões. Ter uma conta numerada na
Suíça não pressupõe, a princípio, nenhum crime, desde que haja
declaração à Receita Federal e ao Banco Central. Mas a natureza das
contas garante a seus donos anonimato, o que chamou a atenção de
autoridades brasileiras que investigam o caso.
Na lista de antigos
correntistas aparece o nome do empresário Henry Hoyer de Carvalho,
ex-dirigente da Associação Comercial e Industrial da Barra da Tijuca,
citado em fevereiro em depoimentos tomados pela Operação Lava-Jato como
operador do esquema de pagamento de propinas por contratos da Petrobras
para parlamentares do PP. De acordo com os delatores Paulo Roberto Costa
e Alberto Youssef, Hoyer, ex-sócio do empresário e ex-senador Ney
Suassuna, passou a atuar como repassador do dinheiro ao partido após a
morte de José Janene, em 2010.
Outro escândalo recente com
personagens no acervo do HSBC é o caso Alstom, suposta formação de
cartel para licitações no Metrô de São Paulo e do Distrito Federal e na
Companhia Paulistana de Trens e Metrô (CPTM). Dois ex-engenheiros, que
foram dirigentes do Metrô, Paulo Celso Mano Moreira da Silva e Ademir
Venâncio de Araújo, abriram contas na Suíça na época em que a estatal
assinou um controverso contrato com a multinacional francesa Alstom.
Três
personagens-chave de um esquema que ficou marcado como a maior fraude
já cometida contra a Previdência Social no Brasil também aparecem na
lista: o juiz Nestor José do Nascimento, o advogado Ilson Escossia da
Veiga e o procurador do INSS Tainá de Souza Coelho (os dois últimos já
falecidos). O escândalo foi revelado em 1992 e, segundo cálculos da
época, houve um rombo de pelo menos US$ 310 milhões aos cofres públicos.
O grupo transformou pequenas indenizações trabalhistas em quantias
vultosas, que eram divididas pelos fraudadores.
Casos de supostas
fraudes no mercado financeiro também têm personagens com contas no HSBC.
É o caso do banqueiro Ezequiel Nasser, do Excel, que adquiriu em 1996 o
Banco Econômico, vendido numa crise de liquidez em 1998. Em seguida,
passou a ser alvo da Justiça, ao lado de outros membros da família
Nasser. Até hoje, Ezequiel e Jacques devem à Comissão de Valores
Mobiliários multas que, somadas, passam de R$ 45 milhões. Recentemente,
Ezequiel foi condenado pelo TRF da 1º Região a cinco anos, dois meses e
12 dias de reclusão por supostas fraudes na gestão do banco, mas ainda
cabe recurso. O ex-gerente do Excel nas Bahamas, denunciado pelo
Ministério Público Federal mas absolvido, Alain Bigio, também aparece na
lista do HSBC.
Cinco outros correntistas brasileiros figuram em
esquema de fraude em licitações do Ministério da Saúde investigado,
entre 2005 e 2011, pelo Ministério Público e PF, nas operações Roupa
Suja e Sexta-Feira 13: os empresários Vittorio Tedeschi e Ettore
Reginaldo Tedeschi, e os doleiros Henoch Zalcberg, Dario Messer e Rosane
Messer. Os escândalos na saúde incluem ainda Joaquim Pizzolante,
ex-presidente da Fundação Pró-Into, acusado pelo MP de integrar a
quadrilha que fraudou licitações entre 1997 e 2001 no Into (Instituto de
Traumatologia e Ortopedia).
Fazem parte da lista dos correntistas
envolvidos em casos de fraude e desvio de recursos três ex-diretores do
fundo de pensão complementar do Serpro (Ministério da Fazenda), José
Pingarillho Neto, Jorge da Costa Ponde e Ricardo José Marques de Sá
Freire, condenados administrativamente por gestão temerária. Eles
abriram contas no mesmo dia, em 8 de dezembro de 2005, apresentando como
titulares empresas sediadas nas Ilhas Virgens, paraíso fiscal.
A
Justiça Eleitoral aparece com o escândalo protagonizado, em 1998, pelo
casal Marco Tulio Galvão Bueno e Alexandrina Formagio, assessores do
então presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, que valeu-se de
sua influência para fraudar licitações. O Caso Portocred, banco de
crédito no RS, com José Alexandre Guilardi de Freitas; e a Operação
Vampiro, com Laerte de Arruda Corrêa Júnior, completam a lista.
* Participaram também da apuração desta reportagem os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL)
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A investigação jornalística multinacional é comandada pelo ICIJ, sigla
em inglês para Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (www.icij.org)
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