domingo, 21 de abril de 2013

Ritual da Tucandeira: A vacina do guerreiro



Fotos:
Josene Araújo e Brayan Levy


Jovem Sateré empunha a luva onde estão alojadas as tuandeiras
Na cultura dos Sateré Mawé, a ferroada das tucandeiras tem significado de cura, chamada de Vacina do Guerreiro. “Quem colocou a mão na luva da tucandeira dificilmente adoece, tem mais sorte no trabalho, tornando-se bom guerreiro, caçador, pescador e pode casar mais cedo”, explica Ocivaldo que revela a resistência da cultura e a identidade do seu povo. “Antes todos eram obrigados, hoje eles se oferecem para participar do Ritual pela empolgação de ver muita gente”, afirma. Para fazer parte é preciso cumprir algumas regras de não comer sal e animais que não tem dente. Diferente dos antepassados que os rituais eram escondidos, atualmente até os brancos podem colocar a mão na luva e participar da dança. O Ritual fez parte da Ação do governo do prefeito Pe. Carlos Góes, realizado no Marau para incentivar a cultura do povo de Maués, realizada no Dia do Índio.

O Canto que alivia a dor

O choro se transforma em canto para aliviar a dor. As vozes dos ferrados se misturam a dança para aquecer o corpo que deve ficar em movimento durante 24 horas.

Eram 16:00h na Comunidade de Vila Nova do Rio Marau, no dia 18 de abril de 2013, quando Luiz Perreira, 42 chegou carregando uma pequena luva de tucandeira, tecida de palha de tucumã. Luiz capturou as tucandeiras logo cedo com outros parentes e adormeceu-as na folha do caju.

Quem observava era Jamico Michles, 20, que cumpriria o ritual, participando pela vigésima vez. O jovem sateré da Comunidade Sagrado Coração de Jesus do Urupadi, confessava que não estava com medo.

O cantador Darci da Silva preparava os adornos para a luva com penas de arara vermelha e penugens de gavião-real. A luva ficou exposta para que as formigas acordassem.

Com uma batida forte dos pés, e o canto de aconselhamento, inicia o Ritual. O primeiro a colocar a mão é Ivanilson 11, que teve o chocalho amarrado na perna. Tão logo recebeu o instrumento sagrado ouviu-se o choro do curumim que se contorcia de dor ao ser ferroado por dezenas de formigas. A dor que sentia Ivanilson causou emoção em quem assistia pela primeira vez o ritual. Conduzido pelo pai o cantador Darci, formou-se uma fileira de jovens que acompanhavam a dança. Ao retirar a luva o choro se tornou mais forte. E assim foram com mais cinco jovens e um veterano.

Atraído o enfermeiro Jair Machado, 40 da CASAI, que mora na Comunidade Vila Nova, há seis meses pediu para ser ferrado. Cumpriu a dança e ao encerrar contou que estava com as mãos apenas adormecidas. “Queria sentir o que eles sentem”,declarou. Após algumas horas o enfermeiro começou a contorcer de dor tendo que ser atendido com medicamentos injetáveis, mas sem sucesso para aliviar a dor. Foram 24 horas chorando, dançando e cantando para aliviar a dor.

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